Calidris pusilla (Linnaeus, 1766)

Notas taxonômicas

Monotípica (Grantsau 2010a)

Português
maçarico-rasteirinho
Espanhol
Correlimos Semipalmeado
Playerito Enano
Inglês
Semipalmated Sandpiper

Categoria para a avaliação do táxon no Brasil

Em Perigo (EN)

Critério para a avaliação do táxon no Brasil

Em Perigo (EN) A2bc

Justificativa para critério e avaliação

Calidris pusilla é espécie migratória que no Brasil ocorre durante o período não reprodutivo ao longo dos ambientes costeiros, principalmente na região norte-nordeste. Essa região juntamente com Suriname e Guiana Francesa, foi considerada como a área de maior importância populacional para a espécie na América do Sul, suportando 90% do total de indivíduos estimado para as áreas não reprodutivas. Estimativas indicam que essa espécie vem sofrendo um declínio anual de 5%, sendo considerado um decréscimo acumulativo de 80% de sua população em 25 anos, cobrindo o período de três gerações (18 anos). Nesse contexto, infere-se que esse declínio reflete de igual maneira a situação da população de C. pusilla no território brasileiro, sendo indicado por levantamentos recentes uma diminuição de 90% da abundância registrada para a região centro-norte do litoral do Brasil. Suspeita-se que esse declínio continuará no futuro próximo em função dos impactos e pressões provocadas nas áreas reprodutivas, bem como pela degradação e alterações dos habitats utilizados nas áreas de invernada durante o período não-reprodutivo, principalmente como consequência da contínua pressão provocada pela ocupação humana nos ambientes costeiros. Por esse motivo, a espécie foi inicialmente categorizada como Criticamente em Perigo (CR) pelo critério A2bc. No entanto, como iniciativas de minimização de impactos nos EUA e Canadá vêm sendo implantadas, tanto em áreas reprodutivas quanto em alguns pontos de invernada, foi sugerido um downlist na categoria, finalizando-a como Em Perigo (EN), pelos critérios A2bc.

Histórico das avaliações nacionais anteriores

Não avaliado anteriormente para o Brasil.

Justificativa para a mudança

Não se aplica

Nenhuma vocalização encontrada!

Distribuição geográfica

Espécie migratória que se reproduz em zonas hiperbóreas do Ártico e Subártico, abrangendo desde a região oriental da Sibéria (Rússia), cruzando o Alaska (EUA) e, de oeste a leste, a porção norte do Canadá (Chandler 2009). A distribuição de invernada no continente americano abrange os ambientes costeiros desde a costa pacífica do sul do México ao sul do Peru e, na costa atlântica de Yucatán ao centro da Argentina (Hayman et al. 1986, van Gils & Wiersma 1996d), com maiores concentrações registradas para a América Central e norte da América do Sul (Gratto-Trevor et al. 2012). No Brasil, ocorre em toda a faixa litorânea (Sick 1997), sobretudo no litoral do Norte e Nordeste (Morrison & Ross 1989, Rodrigues et al. 2007), com registros esporádicos em outras localidades (Olmos & Silva-e-Silva 2003, Bencke et al. 2010, Barbieri et al. 2013, Tavares et al. 2015).

Ocorrências em UC

  • Área de Proteção Ambiental de Piaçabuçú
  • Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba
  • Parque Nacional Restinga de Jurubatiba
  • Parque Nacional de Anavilhanas
  • Parque Nacional da Lagoa do Peixe
  • Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
  • Parque Nacional do Cabo Orange

Registros de Ocorrências

1 - Cabral, S.A.S.; Azevedo-Júnior, S.M. & Larrazábal, M.E. 2006. Levantamento das aves da Área de Proteção Ambiental de Piaçabuçu, no litoral de Alagoas, Brasil. Ornithologia 1(2): 161-167. (1)

2 - Campos, C.E.C.; Naiff, R.H.; Araújo, A.S. 2008. Censo de aves migratórias (Charadriidae e Scolopacidae) da Porção Norte da Bacia Amazônica, Macapá, Amapá, Brasil. Ornithologia 3(1): 38-46. (1)

3 - De Luca, A.C.; Develey, P.F.; Bencke, G.A. & Goerck, J.M. (orgs.). 2009. Áreas importantes para a conservação das aves no Brasil. Parte II - Amazônia, Cerrado e Pantanal. SAVE Brasil. 382p. (1)

4 - FNMA/FURG/IBAMA/NEMA-UFPel (Fundo Nacional do Meio Ambiente, Fundação Universidade Federal do Rio Grande, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Núcleo de Estudos de Meio Ambiente da Universidade Federal de Pelotas) 1999. Plano de Manejo do Parque Nacional da Lagoa do Peixe - Fase 2. 465p. (1)

5 - Henriques, L.M.P. & Oren, D.C. 1997. The Avifauna of Marajó, Mexiana and Caviana Islands, Amazon River estuary, Brazil. Revista Brasileira de Biologia 57(3): 357-382. (1)

6 - Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). 2003. Plano de Manejo do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Anexos. Brasília. 34p. (1)

7 - Larrazábal, M.E.; Azevedo-Júnior, S.M. & Pena, O. 2002. Monitoramento de aves limícolas na Salina Diamante Branco, Galinhos, Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 19(4): 1081-1089. (1)

8 - Lunardi, V.O. 2010. Estratégia de forrageamento e evitação de predadores em Charadriidae e Scolopacidae na Baía de Todos os Santos, Bahia, Brasil. Tese (Doutorado em Ecologia). Universidade de Brasília, 169p. (1)

9 - Sanabria, J.A.F. & Brusco, G.M. 2011. Registros relevantes de Charadriiformes em praias do litoral norte do Rio Grande do Sul , Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, 19(4): 529-534. (1)

10 - Silva, M.; França, B.R.A.; Irusta, J.B.; Souto, G.H.B.O.; Oliveira T.M., Jr.; Rodrigues, M.C. & Pichorim, M. 2012. Aves de treze áreas de caatinga no Rio Grande do Norte, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, 20(3): 312-328. (3)

11 - Silva, R.S & Olmos, F. 2007. Adendas e registros significativos para a avifauna dos manguezais de Santos e Cubatão, SP. Revista Brasileira de Ornitologia, 15(4): 551-560. (1)

12 - Sousa, M.C. 2009. As aves de oito localidades do Estado de Sergipe. Atualidades Ornitológicas, 149: 33-57. (1)

13 - Souza, E.A. ; Nunes, M.F.C.; Roos, A.L. & Araújo, H.F.P. 2008. Aves do Parque Nacional do Cabo Orange: guia de campo. ICMBio/Cemave. 80p. (1)

14 - Stotz, D.F.; Bierregaard, R.O.; Cohn-Haft, M.; Peterman, P.; Smith, J.; Wittaker, A. & Wilson, S.V. 1992. The status of american migrants in Central Amazonian Brazil. The Condor, 94: 608-621. (1)

15 - Valente, R.; Silva, J.M.C.; Straube, F.C. & Nascimento, J.L.X. (org) 2011. Conservação de aves migratórias neárticas no Brasil. Conservation International. 406p. (7)

Recuperações no SNA Net (0)
Empreendimentos (0)
Observação Pessoal (9)
Observação Pessoal
1 - Dani, Paulo Silvestre, Pedro Lima, Reydson, Ana Paula (9)

Foto (4)
Vocalizações (0)

Mapa

Legenda:
Registros de Vocalizações Registros de Fotos Registros em Publicações
Registros em Coleções Registros em Empreendimentos Registros de Observação Pessoal

População

Dados históricos apresentavam uma população total estimada entre 3.200.000 e 3.900.000 indivíduos (1993). População invernante na América do Sul estimada em 2.142.000 indivíduos (1989), dos quais cerca de 80% invernam na costa do Suriname. No leste do Canadá, os números diminuíram significativamente de 1974 a 1991, possivelmente devido a estações muito frias ocorridas nos anos 1970. Censos na Baía de Delaware, durante a migração para o norte, têm indicado diminuição desde 1986 (van Gils & Wiersma 1996d).

Essa região juntamente com Suriname e Guiana Francesa, foi considerada como a área de maior importância populacional para a espécie na América do Sul, suportando 90% do total de indivíduos estimado para as áreas não reprodutivas.

As inferências sobre as estimativas populacionais indicaram um declínio consistente em diversas áreas, sendo utilizado por base informações sobre as contagens de migração em pontos consolidados de monitoramento, tal como evidência de diminuição anual de 5% ao longo de 15 anos em Bay of Fundy (Canadá) e cerca de 75% da população norte-americana, de forma a sugerir que a população de C. pusilla em 2006 foi estimada em 2,2 milhões de indivíduos (Morrison et al. 2006, BirdLife International 2012). A comparação entre as abundâncias documentadas para região norte da América do Sul, no final da década de 1980 (Morrison & Ross 1989) e dados recentes, mostram que a população de invernada nessas áreas sofreu um declínio de cerca de 79% (Morrison et al. 2012). Até que sejam demonstrados indícios de recuperação populacional, C. pusilla é uma espécie de limícola que merece atenção e elevada preocupação para conservação (Andres et al. 2012).

No Brasil, os dados comparativos indicam que houve um declínio de 90% na população de C. pusilla que frequenta a costa centro-norte do país: 192.157 indivíduos registrados em 1986 (Morrison & Roos 1989) e 18.706 indivíduos registrados em 2011 no mesmo local, segundo o mesmo método (Morrison et al. - resultados não publicados). Especialistas suspeitam que a população que ocupa o litoral centro-norte do Brasil represente mais de 90% da população total do país (Oficina de Avaliação, Morrison & Ross 1989, Rodrigues 2000, Rodrigues & Carvalho 2011a,b,c).

Censos realizados nos anos de 2007 e 2008 na Ilha dos Caranguejos, no Maranhão, contabilizaram 35.000 indivíduos desta espécie (Carvalho & Rodrigues 2011), demonstrando que este é um importante ponto de parada no litoral brasileiro.

Há registros de concentrações de 1.500 a 6.000 indivíduos nas Reentrâncias Paraenses entre 1998 e 2005 (Rodrigues & Carvalho 2011a) e de 1.000 a 5.000 indivíduos nas Reentrâncias Maranhenses e Golfão Maranhense no mesmo período (Rodrigues & Carvalho 2011b). Rodrigues (2000) estimou abundância de 26.000 indivíduos na ilha do Cajual e praia de Panaquatira, Golfão Maranhense.

No Complexo Litorâneo da Bacia Potiguar, Irusta & Sagot-Martin (2011) estimaram 2.800 aves em fevereiro de 2007. Na Salina Diamante Branco, Azevedo-Júnior & Larrazábal (2011a) registraram, em março de 1999, 1.455 aves. No litoral paraibano foram contabilizados pequenos grupos, com ocorrências de cerca de 300 indivíduos (Cardoso & Zeppelini 2011). Enquanto que para Pernambuco as contribuições dos estudos de anilhamentos (Azevedo-Jr. & Larrazábal 1999) e monitoramento (Telino-Jr. et al. 2003) indicam ocorrências de bandos de até 700 indivíduos para a Coroa do Avião. Em Sergipe, ocorre em toda a extensão do litoral, com picos de abundância atingindo cerca de 1.500 indivíduos, sendo regularmente observada nas praias de Aracaju (Almeida 2004, Almeida 2010, Almeida & Ferrari 2011), no litoral da Barra dos Coqueiros (Barbieri & Hvenegaard 2008), nos manguezais (Almeida 2004, Barbieri 2007, Almeida & Barbieri 2008), estuários dos rios Vaza Barris, Real-Piauí e São Francisco (Valente et al. 2010), onde é considerado comum (Almeida et al. 2014).

No Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fedrizzi & Carlos (2011b) registraram 350 indivíduos em novembro de 2005.

Há carência de estudos de monitoramento de longo prazo das populações de aves limícolas no Brasil. Em um dos poucos trabalhos realizados, verificou-se um declínio na abundância de C. pusilla no litoral de Aracaju ao longo dos anos de 2003-2006 (Almeida & Ferrari 2010, B.J.M. Almeida - observação pessoal), o qual pode estar associado às pressões resultantes da contínua urbanização litorânea e alterações na fisionomia costeira.

Informações sobre o registro ARA-FOT-

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Habitat, ecologia e história natural

Calidris pusilla é uma ave limícola de pequeno porte, de plumagem monomórfica, mas apresentando tamanho corporal com sutil dimorfismo sexual, sendo as fêmeas um pouco maiores (Cartar 1984). O ciclo de vida do maçarico-rasteirinho envolve uma migração regular entre áreas reprodutivas no Ártico e os ambientes costeiros tropicais, sendo uma movimentação dependente da integridade ecológica de determinadas localidades que constituem pontos estratégicos de descanso e alimentação (Gratto-Trevor et al. 2012). Rodrigues et al. (2007), não registraram deslocamentos entre áreas de invernada na costa norte do Brasil. A espécie mostra uma alta fidelidade aos sítios de invernada.

Nas áreas reprodutivas, tende a formar casais monogâmicos, com cuidado biparental e um alto comportamento territorial (Gratto et al. 1985), alimentando-se da abundante disponibilidade de invertebrados aquáticos, principalmente de insetos e aranhas (Hicklin & Smith 1984). A reprodução ocorre no verão boreal, compreendendo o período entre junho a agosto (Ashkenazie & Safriel 1979, Gratto-Trevor 1991). O restante do ano os indivíduos encontram-se em deslocamento, ao longo das áreas de invernada.

Nas áreas não-reprodutivas, apresenta um comportamento gregário, formando bandos de centenas e milhares de indivíduos (Andres et al. 2012), sendo assim vulnerável a quaisquer alterações ambientais nos ambientes utilizados ao longo da migração (Gratto-Trevor et al. 2012). Nas áreas tropicais, apresenta preferência de forrageamento nos ambientes de substrato lodoso, tais como estuários e manguezais, onde geralmente alimenta-se de anfípodas, poliquetas e outros invertebrados (van Gils & Wiersma 1996d). Utiliza como área de descanso praias, bancos de areias e outros ambientes próximos ao litoral, principalmente durante a maré cheia (B.J.M. Almeida – observação pessoal).

Apesar de ser uma espécie monotípica, há evidências de ao menos três movimentações populacionais diferentes entre as áreas reprodutivas e a migração para os trópicos, indicando perfis biométricos diferentes, com as populações mais abundantes de C. pusilla estabelecidas na região mais oriental do Canadá e apresentando medidas corporais relativamente maiores (Gratto-Trevor et al. 2012, Hicklin & Chardine 2012).

A rota preferencial utilizada pela espécie é a do Oceano Atlântico tanto no sentido norte-sul, quanto sul-norte (Rodrigues 2000, Nascimento 2010). Os bandos começam a chegar ao Brasil em meados de agosto, permanecendo até meados de maio (Antas 1983, Resende et al. 1989, van Gils & Wiersma 1996d, Azevedo-Júnior & Larrazábal 1999, Rodrigues 2000, Canevari et al. 2001, Larrazábal et al. 2002, Rodrigues 2007). A migração dessa espécie abrange uma ampla extensão geográfica e pouco se sabe sobre a movimentação de potenciais grupos populacionais distintos nas áreas não-reprodutivas. Dados obtidos em monitoramento de praias no Sergipe indicam que a espécie pode utilizar a praia de Atalaia (Almeida & Ferrari 2010) e os manguezais de Aracaju (Almeida 2004, Barbieri 2007) por um determinado período, constituindo um pico de abundância entre os meses de outubro-novembro; nos meses seguintes, a abundância registrada é menor, o que indica que parte da população desloca-se para outra localidade, possivelmente para áreas mais ao sul do estado. Outro pico de abundância é registrado entre os meses de março-maio (B.J.M. Almeida - observação pessoal). É possível que a oscilação de abundância nas áreas de monitoramento seja um reflexo da movimentação regional dessas indivíduos.

Suspeita-se que a primeira reprodução ocorra aos dois anos de idade e que viva ao menos até dez anos, sendo que a fertilidade não é afetada pela idade, de modo que o tempo geracional para a espécie é estimado em seis anos (Oficina de Avaliação).

Ameaças

Os principais fatores de impactos negativos sobre as populações são: redução direta dos ambientes aquáticos pelas drenagens, especulação imobiliária, expansão urbana e industrial, poluição por derramamento de óleo, efluentes domésticos e industriais, substituição de áreas naturais por viveiros para carcinicultura, piscicultura, exploração humana excessiva de presas utilizadas pelas aves, atividade salineira, monocultura de coco e de pinheiros, orizicultura, exploração petrolífera terrestre e marinha, usinas eólicas, trânsito de veículos, de animais e pessoas em grande intensidade (Goss-Custard 1979, Burger 1981, Burger & Gochfeld 1991, Davidson & Rothwell 1993, Azevedo-Júnior et al. 1997, Rodgers & Smith 1997, Albano & Girão 2011, Azevedo-Júnior & Larrazábal 2011a, b, Fedrizzi & Carlos 2011a, Girão & Albano 2011a, Irusta & Sagot-Martin 2011, Mäder et al. 2011, Nascimento 2010, Rodrigues & Carvalho 2011a, Sousa 2011a, b).

Um dos principais elos na migração de Calidris pusilla, principalmente no deslocamento para o norte de retorno ao Ártico, constitui o consumo dos ovos do caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus), correspondendo à fonte primária de alimentação, sendo o declínio na disponibilidade desse recurso uma das grandes ameaça à espécie nas áreas de parada dos EUA (Mizrahi et al. 2012). A caça se apresenta como uma forte ameaça às populações de aves limícolas (David Mizrahi - comunicação pessoal), inclusive para Calidris pusilla, conforme registros para o Suriname e Guiana Francesa (Morrison et al. 2012).

O aterramento e ocupação de áreas costeiras, seja em decorrência da especulação imobiliária ou implantação de empreendimentos econômicos, provoca a perda de habitats e consequentemente interfere na ecologia de espécies limícolas, sendo ampliado pelos riscos das mudanças climáticas (Galbaraith et al. 2002). Entre os impactos costeiros, a crescente transformação de manguezais em áreas de aquicultura, tem potencializado os riscos para as espécies de aves limícolas, inclusive C. pusilla (Yasué & Dearden 2009, Navedo et al. 2015). No Brasil, pouco se sabe sobre os impactos ocasionados pelos sistemas de carcinicultura. Existem registros da utilização dessas áreas por grupos de limícolas (Azevedo-Jr. et al. 2004, Almeida et al. 2014), contudo, os impactos da alteração dos manguezais e da construção de tanques sobre as aves limícolas ainda são desconhecidos (B.J.M. Almeida - observação pessoal).

Os distúrbios resultantes de atividades humanas, principalmente relacionados aos diversos usos recreativos e à prática do turismo desordenado, constituem ameaças para todo o grupo de aves limícolas ao longo de vários países (Burger et al. 2004, Pfister et al. 1992). Apesar de o número de pessoas não influenciar a abundância de aves limícolas nas praias de Aracaju, outros fatores como restos de alimento, veículos e atividades recreativas podem alterar o comportamento das aves (Almeida 2010), representando, inclusive, risco de consumo incidental de plásticos ou outros materiais inadequados (Almeida & Ferrari 2011).

Pesquisas existentes e necessárias

Atualmente, está em desenvolvimento um projeto de monitoramento de Calidris pusilla numa cooperação entre os pesquisadores Antônio Augusto Ferreira Rodrigues (UFMA), Roberta Costa Rodrigues (UFPE), Bruno Jackson Melo de Almeida (UFS) e o núcleo de pesquisa da New Jersey Audubon, sob a coordenação do pesquisador David Mizrahi. Este trabalho tem por objetivo a marcação e identificação de indivíduos com bandeirola codificada, de maneira a facilitar a recuperação da informação sobre cada ave marcada. Pretende-se ainda coletar informações sobre os níveis de contaminação expressos em penas e caracterização genética para reconhecimento das populações entre os locais de migração e invernada.

São consideradas pesquisas necessárias para o táxon: a) programa de monitoramento de áreas ao longo das rotas utilizadas por Calidris pusilla no Brasil, a fim de subsidiar medidas de conservação dos habitats para garantir sítios para mudas e acúmulo de gordura e b) pesquisas que permitam relacionar as populações de invernada aos respectivos locais de reprodução e ampliar o conhecimento sobre as relações ecológicas dessa espécie com as principais áreas de concentração, avaliando potenciais medidas de política pública para se instituir a conservação dos respectivos habitats.

Ações de conservação

Diversas estratégias de conservação voltadas a C. pusilla poderão contribuir com a manutenção de outras espécies limícolas. Faz-se necessário o esforço de avaliação dos sistemas de carcinicultura na região Nordeste do Brasil, de maneira a se propor monitoramento e consequente adequação dessa atividade. Recomenda-se a proibição de veículos e a implementação de um projeto de educação voltado ao ecoturismo na área do Golfão Maranhense (Rodrigues & Carvalho 2011a), bem como em outras áreas litorâneas. Deve-se incentivar a continuidade e ampliação dos estudos, principalmente no intuito de melhor compreender migração, dinâmica populacional e ecologia trófica. Os efeitos e ameaças de poluentes ainda constituem impactos pouco avaliados, sendo a exposição à contaminação já evidenciada em diversos trabalhos (Burger et al. 1993, Hargreaves et al. 2010, Kim et al. 2007). É fundamental salientar os potenciais riscos inerentes às atividades de exploração de petróleo e seus derivados ao longo das áreas costeiras.

Calidris pusilla está contemplado pelo Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Limícolas Migratórias.