Guaruba guarouba (Gmelin, 1788)

Notas taxonômicas

Monotípica (Collar 1997).

Guarouba guarouba (Gmelin, 1788)
Psittacus guarouba Gmelin, 1788
Aratinga guarouba (Gmelin, 1788)
Português
ararajuba
guaruba
Espanhol
Aratinga guaruba
Inglês
Golden Parakeet
Golden Conure

Categoria para a avaliação do táxon no Brasil

Vulnerável (VU)

Critério para a avaliação do táxon no Brasil

A4cd; C1

Justificativa para critério e avaliação

Guaruba guarouba é endêmica da Amazônia brasileira, com ocorrência limitada ao sul do rio Amazonas e leste do rio Madeira. Sua extensão de ocorrência foi reduzida em cerca de 30% nos últimos 30 anos e pode ser reduzida em mais projetados 20-30% nos próximos 50 anos. Isso representa declínios passados e futuros no tamanho estimado da população madura (atualmente cerca 10.000 indivíduos) na mesma proporção, incluindo um impacto da retirada de indivíduos da natureza para o tráfico ilegal. Por estas razões, a espécie foi categorizada como Vulnerável (VU) A4cd; C1.

Histórico das avaliações nacionais anteriores

Vulnerável (VU) A2cd (Silveira 2008).

Justificativa para a mudança

Não se aplica

> Tipo de registro Sexo Idade U.F. Cidade Em U.C? Data do registro
> Tipo de registro Sexo Idade U.F. Cidade Em U.C? Data do registro
canto primárioIndeterminadoAdultoMABom Jardim - 10/11/2017

Distribuição geográfica

Endêmica da Amazônia brasileira, com ocorrência limitada ao sul do rio Amazonas e leste do rio Madeira, na borda do Planalto Central (Laranjeiras & Cohn-Haft 2009). No norte do Mato Grosso, a espécie foi registrada em uma oportunidade (sem documentação) no inicio da década de 1990 (Lo 1995). A extensão de ocorrência total engloba não mais do que 300 mil km² e sua ocorrência dentro dessa área é razoavelmente desconectada (Laranjeiras & Conh-Haft 2009).

Ocorrências em UC

  • Floresta Nacional de Caxiuanã
  • Floresta Nacional do Amanã
  • Floresta Nacional de Tapajós
  • Floresta Nacional de Tapirape-Aquiri
  • Floresta Nacional do Jatuarana
  • Floresta Nacional Jamari
  • Floresta Nacional do Crepori
  • Floresta Nacional de Itaituba II
  • Parque Nacional da Amazônia
  • Parque Nacional do Jamanxim
  • Reserva Biológica do Gurupi
  • Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns

Registros de Ocorrências

1 - Aguirre, A.C. & Aldrighi, A.D. 1983. Catálogo das aves do museu da fauna. Primeira parte. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. 143p. (1)

2 - De Luca, A.C.; Develey, P.F.; Bencke, G.A. & Goerck, J.M. (orgs.). 2009. Áreas importantes para a conservação das aves no Brasil. Parte II - Amazônia, Cerrado e Pantanal. SAVE Brasil. 382p. (9)

3 - Griscom, L. & Greenway, J.C. Jr. 1941. Birds of Lower Amazônia. Bulletin of the Museum of Comparative Zoology, 88: 81-344. (4)

4 - Guilherme, E. 2014. A preliminary survey and rapid ecological assessment of the avifauna of Amana National Forest (Itaituba and Jacareacanga, Pará, Brazil). Revista Brasileira de Ornitologia, 22(1): 1-21. (1)

5 - Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). 1999. Plano de Manejo da Reserva Biológica do Gurupi. 285p. (1)

6 - Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). 2006. Plano de Manejo para Uso Múltiplo da Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri. 453p. (1)

7 - ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2008. Plano de Manejo da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns. 62p. (1)

8 - ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2009. Plano de Manejo das Florestas Nacionais de Crepori, Jamanxim e Amanã, localizadas no estado do Pará. 311p. (3)

9 - Kasecker, T. 2008. Síntese biológica do Parque Nacional da Amazônia: subsídios para revisão do Plano de Manejo. Relatório Técnico. Conservation International. 60p. (1)

10 - Laranjeiras, T.O. & Cohn-Haft, M. 2009. Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Golden Parakeet (Guarouba guarouba - Psittacidae). Revista Brasileira de Ornitologia, 17(1): 1-19. (1)

11 - Laranjeiras, T.O. 2008. Distribuição geográfica histórica natural e conservação da ararajuba (Guarouba guarouba - Psittacidae). Dissertação (Mestrado em Biologia Tropical e Recursos Naturais). INPA/UFAM, 114p. (1)

12 - Lees, A.C.; Moura, N.G.; Santana, A.; Aleixo, A.; Barlow, J.; Berenguer, E.; Ferreira, J. & Gardner, T.A. 2012. Paragominas: a quantitative baseline inventory of an eastern Amazonian avifauna. Revista Brasileira de Ornitologia, 20(2): 93-118. (1)

13 - Lima, D.M.; Martínez, C. & Raíces, D.S.L. 2014. An avifaunal inventory and conservation prospects for the Gurupi Biological Reserve, Maranhão, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 22(4): 317-340. (2)

14 - Lo,V.K. 1995. Extensão da distribuição de Guaruba guarouba para o norte do Estado do Mato Grosso, Amazônia Meridional (Psittaciformes: Psittacidae). Ararajuba, 3: 93-94. (1)

15 - Martuscelli, P. & Yamashita, C. 1997. Rediscovery of the white-cheeked parrot Amazona kawalli (Grantsau and Camargo 1989) with notes on its ecology, distribution, and taxonomy. Ararajuba, 5(2): 97-113. (1)

16 - Oren, D.C. & Parker T.A. 1997. Avifauna of the Tapajós National park and Vicinity Amazonian Brazil. Ornithological Monographs, 48: 493-525. (2)

17 - Portes, C.E.B.; Carneiro, L.; Schunck, F.; Silva, M.S.E.; Zimmer, K.J.; Whittaker, A.; Poletto, F.; Silveira, L.F.; & Aleixo, A. 2011. Annotated checklist of birds recorded between 1998 and 2009 at nine areas in the Belém area of endemism, with notes on some range extensions and the conservation status of endangered species. Revista Brasileira de Ornitologia, 19: 167-184. (3)

18 - Rodrigues, L.R.R.; Figueiredo, W.M.B. ; Ravetta, A.L. 2007. Mapeamento e diagnóstico da biodiversidade do Parque Nacional da Amazônia e das Florestas Nacionais de Itaituba I e II: Subsídios para a elaboração dos planos de manejo. Relatório técnico. Sapopema (Sociedade para pesquisa e Proteção do Meio Ambiente). 43p. (1)

19 - Roma, J.C. 1996. Composição e vulnerabilidade da avifauna do leste do Estado do Pará, Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas). Universidade Federal do Pará, Belém. 207 p. (2)

20 - Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira. 3ª. Ed. Nova Fronteira. 912p. (3)

21 - Silva, J.M.C. & Pimentel-Neto, D.C. 1997. As Aves, p. 403-415. In: Lisboa, P.L.B. (org.). Caxiuanã. Museu Paraense Emílio Goeldi. 446p. (1)

22 - Silveira, L.F. & Straube, F. C. 2008. Aves ameaçadas de extinção no Brasil, p. 378-679. In: Machado, A. B. M.; Drummond, G. M. & Paglia, A.P. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Ministério do Meio Ambiente e Fundação Biodiversitas. v.2, 1420p. (24)

23 - Silveira, L.F. & Straube, F.C. 2008. Aves ameaçadas de extinção no Brasil, p.378-679. In: Machado, A. B. M.; Drummond, G. M. & Paglia, A.P. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Ministério do Meio Ambiente e Fundação Biodiversitas. v.2, 1420p. (4)

24 - Silveira, L.F. 2006. Diversity of birds and monitoring of cynegetic species in the forest reserves of the Agropalma Group, in Tailândia municipality, state of Pará. Relatório Técnico. Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. 53p. (1)

25 - Yamashita, C. & França, J.T. 1991. A range extension of the Golden Parakeet Aratinga guarouba to Rondônia state, western Amazonia (Psittaciformes: Psittacidae). Ararajuba, 2: 91-92. (1)

Recuperações no SNA Net (0)
Empreendimentos (0)
Observação Pessoal (0)
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Vocalizações (1)

Mapa

Legenda:
Registros de Vocalizações Registros de Fotos Registros em Publicações
Registros em Coleções Registros em Empreendimentos Registros de Observação Pessoal

População

O tamanho da população da ararajuba já foi estimado em menos de 2.500 indivíduos (BirdLife International 2012). No entanto, recentes observações indicam a existência de aproximadamente 10.000 indivíduos, em 60 localidades de ocorrência e em uma área com habitat disponível de 174 mil km2 (Laranjeiras & Cohn-Haft 2009; Laranjeiras 2011). Na rodovia Transamazônica, ao longo do rio Tapajós (Pará), a população mínima é de quase 500 indivíduos (Laranjeiras 2011).

Informações sobre o registro ARA-FOT-

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Habitat, ecologia e história natural

Ocorre em matas de terra firme, em paisagens de relevo ondulado nas terras baixas (<300m) da bacia Amazônica (Sick 1997), mas bandos têm sido registrados em florestas secundárias e florestas de igapó, utilizadas para alimentação (Kyle 2005, Valente 2006, Laranjeiras 2008a). A maioria dos dormitórios e sítios reprodutivos conhecidos têm sido encontrados em áreas alteradas, com diversas árvores secas ou mortas, adjacentes à floresta continua ou a grandes manchas de floresta. Para pernoitar e nidificar, as ararajubas parecem preferir as árvores isoladas nessas áreas, provavelmente para evitar predadores terrestres e arbóreos (tais como serpentes e macacos). Em uma escala mais ampla, a espécie parece evitar áreas mais úmidas da Amazônia Central e áreas mais ao sul onde a temperatura pode cair em determinadas épocas (Laranjeiras & Cohn-Haft 2009).

As ararajubas são extremamente sociais, vivendo em bando de 4 a 20 indivíduos. O tamanho médio dos bandos, 10 indivíduos, é um dos maiores entre os psitacídeos neotropicais. Em sítios alimentares, as ararajubas podem formar bandos de até 50 indivíduos e a quantidade de indivíduos nos dormitórios (cavidade de árvores) é limitada a menos de 20 indivíduos (Laranjeiras 2011).

A espécie permanece em grandes bandos durante todo o período reprodutivo, o que tem sido relacionado com a presença de múltiplos pares reproduzindo comunalmente, ajudantes reprodutivos (Oren e Novaes 1986) ou jovens de diferentes gerações de um único casal líder (Reynolds 2003). Paternidade extra-par já foi registrada em cativeiro (Albertani et al 1997). A maturidade sexual é alcançada somente após completar três anos e as primeiras ninhadas férteis após 5-6 anos (Reynolds 2003).

Ameaças

A distribuição geográfica da espécie coincide com o arco do desmatamento e desse modo foi reduzida em aproximadamente 30% ao longo das últimas décadas (Laranjeiras & Conh-Haft 2009) e projeta-se uma perda de mais 20 a 30% nos próximos 50 anos (Bird et al. 2012). Embora a espécie possa tolerar certos distúrbios na floresta, as ararajubas estão ausentes em áreas com desflorestamento avançado e os bandos desaparecem sazonalmente em áreas fragmentadas, provavelmente em busca de alimento, indicando necessidade de florestas primárias (Laranjeiras 2011).

No leste do Pará, a espécie é frequentemente capturada e indivíduos são mantidos localmente como animais de estimação ou vendidos para o tráfico ilegal para revenda em cidades maiores (Kyle 2005, Silveira & Belmonte 2005). A captura é relativamente fácil e pode ser potencializada nas regiões com paisagem fragmentada, por causa da aparente preferência da espécie em nidificar em árvores isoladas em pastagens recém-formadas. Árvores isoladas são atrativas para bandos da espécie, devido à aparente proteção contra predadores florestais, mas, contudo, esses ninhos são mais fáceis de serem encontrados por traficantes (Laranjeiras 2011). As ararajubas ainda são frequentes em apreensões por agências governamentais em todo o país, mas, felizmente, não há evidencias recentes de tráfico internacional (Silveira & Belmonte 2005). No oeste do Pará, eventos e evidências de captura estão aumentando a cada dia (Laranjeiras 2008b). Localmente, a espécie tem sofrido pela caça e perseguição pelas populações indígenas ou fazendeiros (Laranjeiras 2008, BirdLife International 2012).

Pesquisas existentes e necessárias

As primeiras informações sobre a biologia da espécie vieram de observações gerais no estado do Pará no fim da década de 1970 (Oren & Novaes 1986, Sick 1997). Na década de 1980 e 1990, a espécie teve sua distribuição geográfica ampliada por registros isolados (Yamashita & França 1991, Lo 1995), mas somente nos últimos anos a espécie foi mais intensamente pesquisada (Reynolds 2003, Kyle 2005, Laranjeiras 2008a, Laranjeiras & Cohn-Haft 2009 e Laranjeiras 2011).

As pesquisas existentes abordaram principalmente informações básicas sobre distribuição geográfica, tamanho dos bandos, itens alimentares, sítios reprodutivos e comportamento, com um aprofundamento nesses aspectos nos últimos anos. De modo geral, pesquisa envolvendo aspectos da existência de populações desconhecidas, do tamanho da população global, da biologia reprodutiva e da vulnerabilidade a alteração ambiental são necessárias (Laranjeiras 2011).

A busca por populações da ararajuba na porção oeste de sua distribuição (sudoeste do Pará e sudeste do Amazonas) é necessária (Laranjeiras & Cohn-Haft 2009, Laranjeiras 2011). A modelagem da distribuição indicou habitat adequado nesta região, onde moradores sugeriram a presença da ararajuba, mas inventários ainda não registraram a espécie (Laranjeiras & Cohn-Haft 2009).

Ações de conservação

Guaruba guarouba está contemplada no Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Amazônia (ICMBio 2012) e no Plano de Ação para Conservação das Espécies Endêmicas Ameaçadas de Extinção da Fauna da Região do Baixo e Médio Xingu (ICMBio 2011).